sábado, 17 de janeiro de 2009

Mover para reviver o interesse em dialetos semitas


Metropolitano da Igreja do Oriente, Mar Aprem com sua
coleção de livros e manuscritos em língua síria.


THRISSUR: Metropolita da Igreja do Oriente e estudioso em língua aramaica, Dr. mar Aprem tomou a iniciativa de relançar o interesse em aprender a globalmente dialetos semitas ameaçados que se pensa ter sido falada por Jesus Cristo.

Falando ao The New Indian Express, Aprem disse que o aramaico com diferentes variações dialéticas é falado em partes na Síria, Iraque e Turquia.

Ele disse que mais de 400 mil pessoas falam o aramaico moderno atualmente.

Ele disse que mais de 2000 anos atrás os judeus falavam em hebraico e aramaico e seu dialeto galileu se acreditava ter sido falado por Jesus Cristo (devido a região onde viveu).

Mar Aprem, que é o autor do livro "Teach yourself aramaic (Aprenda voce mesmo aramaico)", disse que após o lançamento do filme de Mel Gibson "A Paixão de Cristo" em 2004, com a maior parte do seu diálogo em aramaico, as pessoas em diferentes partes do mundo estão mostrando interesse em conhecer e aprender o idioma.

O Metropolita afirmou que um órgão chamado Association for the Preservation of St Thomas Christian Heritage com uma estreita associação do Oriental Institute of the University of Tobingen, na Alemanha, the Syriac Institute USA, Hill Museum and Manuscript Library, USA, Central European University, Hungary and the Kerala Centre for Historical Research tenha sido constituída para este feito.

Ele é o presidente honorário da associação.

Ele disse que os esforços iniciais da associação seria o de preservar através da digitalização dos livros impressos, manuscritos, tanto em papel e de folhas de palmeiras, e outros documentos disponíveis localmente na Síria.

Ele disse que ele tem uma coleção de cerca de 250 manuscritos e livros impressos em língua síria.

Estes incluem o Caldeu Kashkol (breviário Livro de rezas), publicado em 1585 e Hudra (livro organizado pela oração diária de 365 dias), publicado em 1598.

Ele disse que esses livros e manuscritos antigos seculares haviam escapado da destruição por incineração de acordo com a decisão do Sínodo Udayamperoor realizada em 1599.

Ele disse que semelhante colecção valiosa de livros e manuscritos também estão na posse de St Joseph’s CMI Monastry, Mannanam, Syro-Malabar arquivos em Ernakulam.

Ele disse que o processo de digitalização destes documentos está a progredindo bem no momento.


fonte: http://www.expressbuzz.com

sábado, 10 de janeiro de 2009

ORIGEM DA IGREJA MARONITA

Os Maronitas são os Cristãos Católicos Orientais que devem seu nome a São Maron. Em documentos siríacos muito antigos, podemos ler esses vocábulos: Os fieis de Beth (casa) Maron, Calcedônios de Beth Maron, aqueles de Mar Maron... Esses vocábulos significam uma única palavra que os substituirá, a palavra Maronita que será dada a um povo que no Patriarcado de Antioquia seguiu a orientação religiosa de São Maron e seus discípulos.

A Igreja Maronita é uma Igreja católica, de rito oriental, em plena comunhão com a Sede Apostólica Romana, ou seja, ela reconhece a autoridade do Papa. Tradicional no Líbano, essa Igreja Oriental possui ritual próprio, diferente do rito Latino adotado pelos católicos ocidentais. O rito maronita prevê a celebração da missa em língua siro-aramaico, a língua que Jesus Cristo falava.

ٍA Igreja Católica possui duas raízes: a ocidental ou romana e a oriental. Dentro desta segunda, quatro são as sedes patriarcais que marcaram sua historia: Jerusalém, Alexandria (Egito), Antioquia e Constantinopla. Dentro do grupo de Igrejas antioquenas existem dois grupos: sírio- ocidental e sírio oriental. A Igreja Maronita forma parte do grupo sírio-ocidental, sendo o siríaco sua língua litúrgica. Integra-se, pois, na tradição cristã oriental, sendo seu povo das raízes mais antigas de toda a Cristandade.

A Igreja Maronita é a única entre todas as Igrejas orientais que permaneceu em plena comunhão com Roma durante todos os séculos, apesar das tremendas provações suportadas pelos Maronitas e causadas pelos Monofisitas, Bizantinos, Mamelucos e Otomanos ( Turcos). Além disso, essa Igreja constitui um fato único dentro da Igreja universal. Ela é a única no mundo que nunca teve uma facção separada do Catolicismo.Todas as outras Igrejas Católicas têm paralelamente a elas uma ou mais Igrejas gêmeas separadas do Catolicismo. Assim da Igreja Latina ou Romana se separaram os Protestantes e os Anglicanos. Todas as Igrejas Orientais Católicas – menos a Igreja Maronita – se dividem em duas facções desiguais, uma Católica e outra Ortodoxa.

SÃO MARON

A primeira fonte de informação que diz respeito a São Maron é uma carta que São João Chrisostomo mandou em 405, de seu exílio de Cucusa, na Armênia, a Maron sacerdote eremita ,na qual pede sua oração e se lamenta porque não pode visitá-lo pessoalmente. Esta carta é um testemunho autentico de um contemporâneo que conheceu pessoalmente São Maron e apreciou muito a sua piedade.

A segunda fonte de informação apareceu uns vinte anos mais tarde. É a famosa obra Historia Religiosa do Bispo, historiador e teólogo, Theodoreto de Cyr (Quroch) que deu maiores informações sobre a vida do eremita São Maron e de sua influencia espiritual sobre seus discípulos e sobre o povo no região norte da Síria.

Segundo o Bispo de Cyr ( 393-452), na segunda metade do século IV e nos princípios do século V, sobre uma montanha situada na região da Apaméia, vivia um santo anacoreta chamado Maron. Retirou-se em aquela montanha, perto de um templo pagão que ele próprio convertera em igreja. Dedicava-se à oração e à penitencia. Vivia dia e noite ao ar livre. Poucas vezes , quando o frio ou o calor chegavam ao extremo, ele se refugiava sob uma tenda de pele..

Theodoreto disse também que São Maron, de origem antioquena, foi dotado de muita sabedoria que fez dele grande diretor de almas. A austeridade de sua vida e o dom dos milagres do qual foi favorecido fizeram dele uma das grandes celebridades da região naquela época. “Deus sendo rico e generoso para com os seus santos o gratificou com o dom de curar as doenças. Sua fama espalhou-se em toda a região. As multidões acorriam a ele... Com efeito, a febre parava sob o rocio de sua bênção , os demônios fugiam, os enfermos recuperavam a saúde pela virtude de um único remédio: a oração do Santo. Porque os médicos prescrevem um remédio para cada doença, mas a prece dos amigos de Deus mostra-se como o remédio que cura todas as doenças.

“Contudo, Maron não curava somente as doenças do corpo, ele curava igualmente as doenças da alma. Libertava uns da avareza, outros do ódio, ensinava a uns a lei da justiça e acordava outros do sono da negligencia. “

O mesmo historiador chama São Maron: O Grande, o Sublime, o Divino. Por suas orações e pregações ele convertera muitas pessoas da cidade de Cyr (Curoch) e de toda a região norte de Síria ao Cristianismo e se tornou um exemplo a ser seguido. Ele foi considerado um dos fundadores da vida monástica no Oriente. Numerosos foram os discípulos, homens e mulheres que, seguindo o exemplo deste eremita e querendo imitá-lo, transformaram as cavernas, as grutas, os morros em ermidas. Todos esperavam a visita do Santo para escutarem seus sermões e receber dele as orientações necessárias para a vida ascética e mística.

Assim, podemos entender a conclusão entusiasta de Theodoreto, contente de ver os frutos da piedade crescendo muito, nos jardins de sua diocese: ” Em suma, o ensino do Santo fez crescer muitas plantas para a sabedoria celeste. Maron cultivava para Deus este jardim que floresce em todas as regiões de Cyr.”

O famoso historiador termina a biografia de São Maron falando de sua morte que ocorreu perto do ano 410, depois de uma breve doença mostrando no mesmo momento a fraqueza da natureza e a sua força espiritual. O desejo de conseguir seus restos mortais levou a uma forte disputa entre os habitantes das cidades vizinhas. Porem, os habitantes da maior cidade vizinha, chegaram a grande numero, expulsaram aos outros, e levaram esse rico tesouro. Mas tarde construíram sobre seu tumulo uma grande igreja.

A festa litúrgica de São Maron celebra-se, desde muitos séculos, no dia 9 de fevereiro .

DISCÍPULOS NOS MOSTEIROS DE SÃO MARON

São Maron morreu perto do ano 410, mas sua escola de ascetismo prosperou muito. Os seus discípulos construíram vários mosteiros e se espalharam por toda a Síria e alguns deles chegaram à Montanha Libanesa onde converteram ao Cristianismo os habitantes que eram ainda pagãos, apesar de que o litoral libanês e uma parte da Montanha tinham já recebido a religião cristã no primeiro e segundo século da era cristã. O que facilitou a evangelização foi notadamente a língua aramaica que era comum aos monges de São Maron e aos habitantes da Montanha Libanesa.

Vários discípulos de São Maron, com Theodoreto de Cyr, foram, no Oriente, os principais defensores do Concilio de Calcedônia (451). Este deu a principal definição dogmática: “Em Cristo existem duas naturezas bem distintas, a natureza divina e a natureza humana em uma só pessoa.” Com isso entendemos que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. O Imperador Marciano, muito satisfeito do empenho dos discípulos de São Maron, em consolidar e propagar o dogma católico declarado no Concilio de Calcedônia, mandou renovar o grande mosteiro pertencente aos monges desse Santo, conhecido sob o nome de Mosteiro de São Maron, porque nele foram depositados os restos mortais do santo eremita. E foi considerado como berço da Igreja Maronita.

Assim, todos aqueles que seguiram os ensinamentos de São Maron e caminharam segundo os conselhos de seus monges, abraçando a doutrina do Concilio de Calcedônia, foram chamados Maronitas, nome que há mais de quinze séculos lhes é um glorioso titulo, porque este vocábulo foi sempre sinônimo de Católico. Esses discípulos de São Maron organizaram o núcleo principal da Nação Maronita que será baluarte da luta em favor da fé e em beneficio do triunfo da verdade sobre a mentira e da liberdade contra a opressão

No ano 517, os Cristãos monofisitas, chamados Jacobitas, que não aceitaram o dogma definido no Concilio Ecumênico de Calcedônia., assassinaram uns 350 monges, conhecidos como mártires discípulos de São Maron. O Papa Hermes II mandou uma carta de consolação aos principais membros da Comunidade, lembrando que estes mártires, desde o inicio, selaram a fé católica com seu sangue.

INSTITUIÇÃO DO PATRIARCADO MARONITA

Os Patriarcas Maronitas pertencem à uma serie de Patriarcas Antioquenos católicos. O primeiro de todos é o Apostolo São Pedro que fundou a Igreja de Antioquia antes de assumir a direção da Igreja de Roma . A instituição do Patriarcado Maronita aconteceu no final do século VII, perto do ano 685, ou no inicio do século VIII, entre 702 e 707. Não existe ainda sobre um verdadeiro acordo entre os historiadores, sobre este ponto. A principal razão consiste em que a importante biblioteca do Mosteiro de são Maron foi queimada pelos Árabes no século X.

Nos primeiros séculos do Cristianismo, a maior parte dos Cristãos de Antioquia era de língua grega. Mas quando os habitantes das aldeias rurais, falando exclusivamente o aramaico, converteram-se ao Cristianismo, a partir do século V, graças à iniciativa de monges maronitas, a balança das forças na Igreja de Síria inclinou-se para o lado destes e de todos os Cristãos arameus. Assim eles tiveram a possibilidade de eleger um Patriarca Maronita para a sede patriarcal de Antioquia, vacante durante muitos anos, por razão de dificuldades políticas e religiosas.

Com efeito, depois da morte do Patriarca Antioqueno Anastácio II (598-610), a sede patriarcal de Antioquia ficou sem titular até o ano 645. Os acontecimentos político-religiosos se sucederam com muita velocidade, começando pela invasão árabe, no ano 636, que cortou as vias de comunicação entre Antioquia e Bizâncio, de um lado, e entre Antioquia e Roma, de outro lado. O Imperador Bizantino, aproveitando desta situação confusa, nomeava, a partir de 645, Patriarcas para a sede de Antioquia. Estes representantes eclesiásticos viviam no Palácio Imperial em Constantinopla, bem longe do povo e sem a aprovação do Papa. Assim todo Patriarca Antioqueno escolhido pelo Imperador Bizantino era só Patriarca nominal, não exercendo, nem podendo exercer as suas funções e obrigações de autentico pastor de sua Igreja.

YUHANNA MARON, Primeiro Patriarca Maronita

Por razão desta situação confusa e humilhante para a Igreja de Antioquia, os adeptos do Concilio de Calcedônia nesta Igreja, orientados pelos monges dos mosteiros maronitas, não pararam diante de uma lei, não pediram o conselho de ninguém, não aceitaram nenhuma nomeação ou confirmação de estranhos. Reuniram-se e decidiram eleger um Patriarca vivendo no meio do povo. Para essa finalidade foi eleito e entronizado o Bispo de Batroun, Yuhanna (João) Maron, como primeiro Patriarca Maronita de Antioquia.

Segundo seus biógrafos, antigos e modernos, baseados sobre a tradição, Yuhanna Marun nasceu no inicio do século VII, na cidade de Sarum, na região de Antioquia. Fez seus estudos na cidade de Antioquia e no principal mosteiro de São Marun na Síria Central, perto de Maarret Annaman, Depois de sua ordenação sacerdotal, a sua atividade intelectual e seu zelo missionário irradiaram até bem longe daquela região. O Legado do Papa em Terra Santo o nomeou Bispo de Batrun (norte do Líbano) em 675 ou 676. A sua atividade missionária continuou irradiando-se no Líbano e em outros países da região.

Em 686 ou no inicio do século VIII, o Bispo Yuhanna Marun foi eleito Primeiro Patriarca Maronita pelos monges siríacos do Patriarcado de Antioquia com apoio do povo.. Desde a sua entronização teve que enfrentar dois obstáculos de grande importância. O primeiro veio da parte do Imperador Justiniano II que recusou de conhecer-lhe como Patriarca. O segundo obstáculo consiste no confronto com o Império árabe Omyade cuja capital era Damasco.

Depois de sua eleição o primeiro Patriarca Maronita teve uma passagem rápida em Antioquia, na Igreja do mártir São Babilas. Perseguido pelo Imperador Justiniano II deixou Antioquia para se dirigir ao Mosteiro de São Maron na província de Apaméia e a outro mosteiro perto de Damasco onde permaneceu também pouco tempo. Perseguido pelo exercito bizantino teve que se dirigir ao Líbano e estabelecer a sua residência provisória em Kfarhai, região de Batrun, a sua antiga diocese, onde guardou como relíquia de grande valor o crânio de São Maron.

Alem disso, o Kalifa não queria admitir a presença de um Patriarca no Líbano dando apoio e acréscimo de força aos exércitos Maradat, inimigos dos Árabes. Por isso, os combates recomeçaram entre árabes e Maradat no inicio do Patriarcado de Yuhanna Marun. Este reunia em sua pessoa as qualidades do Pastor religioso e do chefe político, isto é a prudência, a sabedoria e a coragem dos heróis nacionais. Essas qualidades e o tempo conseguiram afastar gradativamente os dois principais obstáculos. O primeiro Patriarca Maronita foi conhecido por sua santidade e sua alta cultura teológica. Ele passou a uma vida melhor perto do ano 710. Como acontecia naquela época, o povo maronita levou o Patriarca Yuhanna Maroun aos altares. Celebramos a sua festa no dia 2 de março de cada ano.

Assim nasceu o maronismo, um ato de contestação, de liberdade,, uma iniciativa criadora e única em seu gênero na Igreja, numa unidade perfeita. Disse Charles de Clerq: “O poderoso mosteiro de São Maron, tendo jurisdição sobre a população dos arredores do convento, se declara independente e forma uma verdadeira Igreja a testa da qual nós encontramos, no século VIII, um Patriarca.

Ao instituir um Patriarcado autônomo, sem pedir a autorização do Califa Omeyade ou do Imperador Byzantino, segundo a mentalidade daquela época, os Maronitas cometiam um ato de rebeldia de uma audácia incrível. Além disso, não aceitaram, mais tarde, solicitar a investidura (Firman) exigida pelos governadores muçulmanos para todos os Patriarcas e Bispos. Os discípulos de São Maron têm sustentado essa negativa desde a época dos Califas Omeyades até o ano 1918, data do fim da época Otomana no Líbano. Este ato de ilegalidade renovado durante doze séculos define perfeitamente o caráter dos Maronitas, seus planos e seu destino. Foi a ilegalidade introduzida como principio de existência frente às legalidades tirânicas oficiais. Desta iniciativa dos monges disse o Papa Bento XIV: “Perto do fim do século VII enquanto a heresia desolava o Patriarcado de Antioquia, os Maronitas a fim de se colocarem ao abrigo desse contagio, resolveram escolher um Patriarca cuja eleição foi confirmada pelos Pontífices romanos.”

SEDES DOS PATRIARCAS MARONITAS

Os Patriarcas Maronitas, apesar de serem Patriarcas de Antioquia e de todo Oriente, não tiveram a sua sede em Antioquia, por causa das guerras e das perseguições. No século X, depois da destruição do mosteiro de São Maron pelos árabes, a sede patriarcal foi transferida definitivamente para o Líbano no ano 939, por João Maron II. A maioria absoluta do povo maronita vivia já nas montanhas do Líbano.

Este povo foi formado por três grupos diferentes: os descendentes dos primeiros Cristãos que viviam no litoral libanês, convertidos pela pregação dos Apóstolos e de seus discípulos nos séculos primeiro e segundo do Cristianismo; os libaneses arameus da Montanha Libanesa, convertidos do paganismo nos séculos V e VI, em virtude da pregação dos monges de São Maron; e finalmente o terceiro grupo dos Cristãos que emigraram, notadamente da Síria, perseguidos por anti-calcidonios e por muçulmanos.

As principais sedes patriarcais maronitas no Líbano são quatro, e todas dedicadas a Nossa Senhora, a Virgem Maria:

1 – Convento de Nossa Senhora de Yanouh , entre Kartaba e Akoura, região de Biblos, onde residiram 23 Patriarcas. O mais conhecido destes foi Jeremias Alamchiti.

2 – Convento Nossa Senhora de Mayfouk foi sede de 10 Patriarcas. Os mais importantes entre eles foram o mártir Gabriel de Hjoula e Yuhanna Eljajy II. Este, depois de morar alguns anos neste mosteiro, transferiu a sede patriarcal , em 1440, para Qannubin.

3 - Convento Nossa Senhora de Qannubin, num profundo e inacessível vale onde residiram 25 Patriarcas. O mais famoso de todos eles é o Patriarca Estefan Douaihy.

4 – Convento Nossa Senhora de Bkerke, a partir de 1823, foi sede de 9 Patriarcas: Yussef Hebaich, Yussef Elkhazen, Boulos Massad, Yuhanna Eljaji, Elias Elhoyek, Antonios Arida, Boulos Meouchy, Antonios Koraich e Nasrallah Sfeir, o Patriarca atual.

A história deu ao Patriarca Maronita um papel muito importante nos domínios social, político e religioso. Dominique Chevallier reconhece que o papel do Patriarca Maronita tem aumentado com a potencia de sua Igreja e a população de sua comunidade. Chegou a ser o interlocutor respeitado das autoridades constituídas.

A historia dos séculos passados nos dá vários testemunhos neste sentido. Informando-nos sobre a organização da justiça no Líbano, sob o Emir Fakhreddin II (1598-1635), Frei Eugène Roger disse do Grande Emir do Líbano: Por razão do amor que testemunhava aos Cristãos da Igreja Romana... não queria tomar conhecimento dos assuntos dos Maronitas, deixando a seu Patriarca as diligencias de mantê-los em seu dever e de acabar as suas desavenças. E segundo Frei Bernard, o Patriarca Maronita é a primeira autoridade moral do país e tem na vida nacional um papel de primeiro plano.

Como a idéia religiosa tem presidido à constituição do povo maronita, de uma maneira natural o Patriarca chegou a ser o seu centro de união e de adesão, ao mesmo tempo político e religioso. Este estatuto patriarcal tem sido reforçado por razão das perseguições que os Maronitas suportaram, notadamente na época dos Mamelucos e dos Otomanos.

OS MARONITAS E O LÍBANO

Perseguidos em razão de sua fé, os Maronitas tiveram que se refugiar, a partir do século VII, no Líbano, mas a maior parte deles emigrou depois da destruição do Mosteiro de São Maron pelos árabes, no ano 939. Os emigrantes encontraram na Montanha Libanesa uma terra de liberdade, e com o espírito tenaz, transformaram seu árido solo em um florescente e fecundo jardim.

Como os Maronitas não pediram o consentimento de ninguém para instituir um Patriarcado, tampouco pediram autorização para escalar as montanhas do Líbano, abrigar-se em seus cimos e suas vales e transportar um pouco de terra de entre suas rocas, a fim de plantar nela algo que comer. Eles fizeram também, do Monte Líbano, um refúgio para todos os oprimidos no Oriente.

Por um ato de liberdade, os Maronitas nasceram e apareceram no mundo, e por causa desta liberdade emigraram de uma terra para outra, do Oriente até o fim do Ocidente. Foram perseguidos e não perseguiram ninguém. Na liberdade está a razão de ser das garantias que continuam exigindo dos amigos Orientais, Europeus, Americanos e da ONU .

A sua historia identificou-se com a historia do Líbano, e não será estranho vê-los defender sua pátria com valentia , sangue e heroísmo. Jamais o Líbano, único baluarte do Cristianismo em Oriente, aceitou a submissão aos inimigos, graças à luta dos Maronitas e seus irmãos Libaneses contra os inimigos opressores. Disse Khaled Ibn Alwalid: Submeti países que se prostraram como camelos. Porém o Líbano permaneceu em pé como gigante.

Se a Igreja Maronita, cercada por regimes profundamente teocráticos, conseguiu resistir e preservar a sua identidade, é porque ela se erigiu rapidamente em Nação, para poder sobreviver. As circunstancias históricas e a facilidade de adaptação deste povo à convivência com outros povos e outras mentalidades causaram grande transformação. A Montanha Libanesa tornou-se como uma grande muralha frente a todos os invasores.

Dois acontecimentos importantes na segunda parte do século VII ajudaram muito ao fortalecimento dessa nova Nação. A chegada às montanhas libanesas, a partir do ano 676, dos guerreiros arameus chamados Maradat, com a finalidade de combater os Omyades da Síria. Todos os Maradat que ficaram no Monte Líbano converteram-se em Maronitas e, em contrapartida, o exercito dos Maronitas se chamou desde então Maradat. O segundo acontecimento já citado, foi a instituição do Patriarcado Maronita. Mas o completo fortalecimento e a oficialização da Nação Maronita aconteceram no século X, com a transferência definitiva deste Patriarcado, em 939, da Síria para o Líbano, pelo Patriarca João Maron II.

Este maronismo não se reduz, pois, a uma Igreja, nem pode limitar-se a uma terra, já que pelo universalismo de sua fé católica, por sua difusão geográfica em todos os continentes, pela diversidade de suas expressões culturais, desborda as fronteiras de um determinado território nacional. Em virtude de todos estes aspectos, o Maronismo é um testemunho do universal. Por conseguinte, ele consiste numa abertura a todas as Igrejas, a todas as confissões religiosas, a todos os homens de boa vontade.

Contudo, todas essas riquezas teriam sido sem duvida esgotadas e a personalidade maronita se teria desagregado se não tivesse existido, em alguma parte, um centro de gravidade destinado a assegurar a unidade e a manter a coesão. Este centro é o Líbano, desde o ano 939, quando a sede patriarcal passou a ele em forma definitiva, instalando-se em Yanouh, nas altas montanhas de Biblos. O resultado esperado foi o nascimento de um povo e de um país, já que sem o Maronita, a terra, como tantas outras zonas do Oriente, teria sido estéril pela falta de herdeiros naturais, e o Maronita, sem a terra, seguramente teria errado de porto em porto até perder-se definitivamente.

A vida religiosa do povo Maronita é assim ligada intimamente a sua vida política e nacional, de maneira que uma não pode ser explicada senão pela outra. Neste sentido disse Ristelhueber: Fortemente agrupados ao redor de seu clero e de seu Patriarca, os Maronitas constituem logo um pequeno povo de uma essência particular. O vale sagrado de Kadicha escavado de celas de eremitas, os cedros dos altos cumes, símbolo de sua vitalidade e de sua independência, e o mosteiro patriarcal de Cannobin, alcanforado como um ninho de águia, resumem toda a sua historia. Assim, falar de Maronitas e do Líbano é falar de duas entidades bem ligadas entre si, as suas relações são tão intimas que se perdem na noite dos tempos.

RELAÇÃO DOS MARONITAS COM ROMA

Durante quatro séculos, Roma parecia ignorar a existência dos Maronitas, que por sua vez, obrigados ao isolamento na Montanha Libanesa, ignoravam tudo o que acontecia em Roma. Mas, com a chegada dos Cruzados ao Líbano, em 1099, os Maronitas conseguiram retomar o caminho de Roma que lhes era interditado. Assim, se liberaram do isolamento e reataram boas relações com alguns países europeus e especialmente com a Igreja Latina.

Esse fato se explica facilmente ao lembrar que o Patriarcado Maronita tem sido formado e instituído quando as comunicações com Ocidente eram muito difíceis e, mais tarde, as dificuldades aumentaram gradativamente, porque as perseguições perpetradas contra os Maronitas, a partir do século VI, lhes impediram manter importantes relações com o ramo ocidental da civilização cristã. As pequenas relações que os Maronitas conseguiram ter com Roma e a Cristandade ocidental atiravam as suspeitas dos governadores mamelucos e otomanos e as utilizavam como pretexto à novas perseguições. Não é necessário citar aqui os nomes das longas listas do “martiriologio” maronita, onde todas as categorias sociais estão representadas.

Na época dos Mamelucos, as relações sócio-religiosas entre a Igreja Maronita e Roma enfraqueceram muito. Em conseqüência das dificuldades de comunicação com Europa e da tirania dos Mamelucos, não foi possível aos Patriarcas Maronitas conseguirem com facilidade o Paliam, símbolo do reconhecimento pelo Papa da autoridade do Patriarca sobre o povo maronita. Roma fazia o que podia e sabia, nesta situação complicada, encarregando os Franciscanos de Terra Santa de velar sobre as necessidades religiosas e culturais da Igreja Maronita. Eles cumpriam seu dever com muita capacidade e honestidade.

Essas relações durante o sombrio e decadente período do regime mameluco reduziram-se ao intercambio de cartas asseguradas por delegados escolhidos notadamente entre os Franciscanos de Terra Santa. Seu comissariado apostólico assegurava a continuidade dessas relações, desde a sua criação em Beirute, no ano 1444. Os Franciscanos fizeram a consolação dos Maronitas até o fim do século XV. Entre todos eles se destacou um belga, Fra Gryphon. A lembrança de sua missão foi profundamente gravada na memória dos Cristãos Libaneses.

Essas relações melhoram na época otomana com a ajuda dos Reis de França, pelo regime des Capitulations. As relações permanecem graças aos missionários Franciscanos, no inicio, e mais tarde pelos Jesuítas, Capuchinos, Carmelitas, Lazaristas e outros. Essa abertura não se separa do conjunto das relações religiosas, políticas e econômicas entre Oriente e Ocidente.

A época de Fakreddin II (1598-1635) pode ser considerada como a idade de ouro das relações da Igreja Maronita com Roma. O Emir recorreu ao Patriarca Yuhanna Maklouf pedindo a sua intervenção perante o Papa para poder garantir a independência do Líbano. O Patriarca atendeu a seu pedido encarregando grandes escritores formados no Colégio Maronita de Roma de trabalhar como embaixadores do Emir em Roma, Toscana e Espanha. Citamos entre eles o Bispo Jorge Humaira (futuro Patriarca) e o Professor Ibrahim Alhaqlany.

As relações com Roma consolidaram-se graças ao Colégio Maronita de Roma fundado em 1584. Ele consagrou uma abertura seria da Igreja siríaca maronita de Antioquia à Igreja Latina de Roma. Essa abertura não podia ser isolada do conjunto das relações religiosas, políticas e econômicas entre Oriente e Ocidente. Assim, o projeto cultural, inaugurado pela Santa Sé, após a secessão protestante é consolidado pelo regime des Capitulations entre Europa e Istanbul , auqual o Patriarcado Maronita aderiu plenamente, afim de contribuir aos intercâmbios entre esses dois Mundos.

A partir da época do Mandato francês (1918- 1943), as relações do Líbano com Europa, especialmente com Roma e Paris, ficaram perfeitamente normais, graças à presença de numerosos sacerdotes, religiosos, religiosas, colégios e homens políticos franceses no Líbano.

Além disso, os Papas prestaram com suas bondosas palavras um valioso testemunho que enche de orgulho e de satisfação o povo maronita. Assim, Leon X escrevia, em 1515, ao Patriarca Maronita Simaan Alhadacy: Convém agradecer à divina clemência porque, entre as nações orientais, o Altíssimo queria que os Maronitas fossem como rosas entre espinhos.

Clemente XII em 1735, qualifica a Nação Maronita de rosa entre os espinhos, de roca muito solida contra a qual se rompem as fúrias da infidelidade e das heresias.

Pio X disse: “Amamos todos os Cristãos do Oriente, porém os Maronitas ocupam um lugar especial em nosso coração , porque foram em todo tempo a alegria da Igreja e o consolo do Papado... A fé católica está arraigada no coração dos Maronitas como os antigos cedros estão enraizados por suas poderosas raízes nas altas montanhas de sua Pátria.”

Não é necessário estender-se mais sobre este sublime apreço dos Papas aos Maronitas. É muito eloqüente a atitude dos dois últimos Pontífices convivendo com os dramas que afeitaram ao Líbano na ultima guerra que castigou cruelmente o País durante 17 anos. As palavras, os gestos, a preocupação quase diária foram a manifestação continua do afeto mais puro e sincero do Papa João Paulo II, de feliz memória, para o Líbano. Tudo isso foi um suave balsamo para as feridas do povo maronita e uma forte dose de esperança para os filhos de São Maron, em sua árdua luta para uma digna supervivência . Lembramos com grande apreço a convocação para uma assembléia especial do Sínodo dos Bispos dedicado ao Líbano, como também a visita do Papa em maio 1997 para os Cristãos deste país.

Tudo isto porque os Maronitas representam, sobre esta pequena superfície, que é o Líbano, os valores de eternidade, de civilização e de humanismo. Abrindo seus corações a Roma e aos ensinamentos que emanam da Sede de Pedro, numa submissão racional que os honra e os enobrece, eles continuam guardando com o Oriente o sentido vivo das tradições legadas pela Igreja de Antioquia. Seu apego à Roma confirma e consolida mais as suas tradições antioquenas. Em Roma, como em Oriente, se sentem plenamente em sua casa. Mais além do confessionalismo estreito, vivem dentro da Católica , numa alma católica.




A AMIZADE FRANCO –LIBANESA NA HISTÓRIA.

A amizade franco-libanesa é uma realidade histórica, uma tradição e uma constante.

As primeiras relações amistosas entre Maronitas e Europeus, especialmente Franceses, remontam à época de Carlos Magno (768- 814), graças aos peregrinos Europeus que visitavam continuamente a Terra Santa.

É a R. Ristelhueber que devemos as informações referentes à essas relações : « É igualmente nesta data (época de Carlo Magno,) que as peregrinações a Terra Santa se fizeram mais freqüentes. A sua origem remonta a uma época muito longínqua... Para chegar ao Tumulo de Cristo muitos peregrinos do Ocidente atravessavam o litoral libanês habitado pelos Maronitas. Estes, afirma a tradição, reservavam a seus correligionários, - muitos vinham de França – o acolhimento mais cordial que podiam. Gostavam de ouvir falar de nosso país e já a França teria sido conhecida, amada e respeitada na Síria antes mesmo da chegada dos Cruzados...”

Uma carta mandada em 881 pelo Patriarca maronita Elias ao clero do Ocidente prova claramente que, antes dessa época, foram estabelecidas relações continuas entre os Cristãos de Oriente e os de Europa. Neste documento, o Patriarca descrevia os sofrimentos do seu povo e solicitava a expedição de ajudas pecuniárias destinadas a restaurar os Lugares Santos. Parece que, de fato, o desaparecimento de Carlo Magno foi nefasto para os Cristãos do Oriente cuja situação piorou rapidamente. Chamadas incessantes foram dirigidas a Europa para implorar a sua proteção . No concerto dessas lamentações, a voz dos Maronitas se fez ouvir.

Mas R. Ristelhueber mesmo disse : “ durante todo esse primeiro período , o que sabemos das relações travadas entre os Maronitas e seus correligionários de Ocidente é, devemos reconhecer, singularmente pouco preciso. Devemos contentar-nos de probabilidades. Estas deduzem-se com muita lógica de fatos históricos conhecidos. São como um eloqüente e novo testemunho do apego dos Maronitas a França.

Durante a primavera de 1099, os Cruzados chegaram à cidade de Arka no distrito de Akkar (norte do Líbano). Desde o inicio eles foram bem acolhidos pelos Cristãos da Montanha Libanesa. Entusiasmados por uma imensa alegria ao verem seus irmãos, cristãos do Ocidente que, como eles eram “calcedônios”, foram para os recém chegados auxiliadores muito úteis. Disse R. Ristelhueber : “ Enquanto a Síria ribombava do estrondo das armas, a maior parte dos acontecimentos que se desenvolveram em torno deles não chegou a modificar sensivelmente a situação dos montanheses maronitas. Sem embargo, um (acontecimento) produziu entre eles uma repercussão considerável: foi a chegada dos Cruzados.

O mesmo historiador cita um cronista da época que falou desse encontro entre Cristãos orientais e ocidentais: “ O exercito cristão viu descer das montanhas, com viveres e armas, homens orientais que gritavam: “Francos! Francos! São os Maronitas que, quatrocentos anos antes começaram a Cruzada e que chegaram agora, com alegria, para oferecer guias e guerreiros. Jacques de Vitry acrescenta dizendo: “Ai sobre os planaltos do Líbano na região de Fenícia e não longe da cidade de Jbeil se encontram gentes bastante numerosas, espertas em manipular o arco. Auxiliaram muito os Cruzados.

Convém sublinhar que para os Maronitas daquela época os Francos eram sobre tudo Franceses.

Mais tarde, em 1535 o rei da França , François Premier assinou com a Sublime Porta um acordo chamado “ Les Capitulations” que dava aos Franceses vários privilégios, entre eles que os responsáveis Otomanos abrem os portos pertencendo a seu Império, facilitando para os Franceses o comercio com todos os países do Medio Oriente, e de defender os direitos dos Cristãos destes países. Desde aquele momento os Franceses empenharam-se em defender os direitos dos Maronitas frente aos Otomanos e aos Ingleses.

Assim, por exemplo, os massacres dos Cristãos do Líbano e de Damasco, em 1860, alertaram os Europeus que decidiram intervir, sobre tudo após as diligencias de Thourvenel, ministro Frances de assuntos exteriores. No dia 3 de agosto as potencias européias firmaram , em Paris, um protocolo que previa inicialmente a expedição de tropas para pacificar as regiões atormentadas. Essa expedição foi exclusivamente francesa. Assim, no dia 8 de agosto o general de Beauford d’Hautpoul, comandante do corpo expedicionário, embarcou em Marseilles, e no dia 16 entrou em Beirute . Sobre uma rocha de Nahr Elkalb, a 14 quilômetros ao norte desta Capital , foi escrita uma inscrição comemorativa da expedição francesa de 1860, que levou ao Líbano o socorro e a paz. Assim, Napoleão III recupera para a França seu lugar de protetora dos Cristãos de Oriente.




A LITURGIA MARONITA

A liturgia Maronita pertence, por sua origem, ao grupo de liturgias siríacas antioquenas. No século IV, a língua literária do povo de Antioquia era o grego. Mas o siríaco foi a língua vernácula da população rural. São João Crisostomo (345-407) disse que do seu tempo, o povo das aldeias vizinhas de Antioquia que vinham a esta capital para as grandes festas, participavam ao ajuntamento da celebração eucarística, mas não entendiam a homilia feita em grego. Theodoreto, bispo de Cyr, e originário de Antioquia dizia também, que toda a região que ele conhecia perfeitamente entre Antioquia e Aleppo tinha como língua o siríaco. Por isso, o siríaco na liturgia substituirá pouco a pouco a língua grega, como mais tarde é o árabe que substituirá em grande parte a língua siríaca nos países de língua árabe.

Esta liturgia continua em representar a antiga liturgia antioquena do século IV, apesar de estar carregada, em nossos dias, do que as diferentes camadas da evolução e da historia têm acrescentado nela através dos séculos. Ela é universalmente conhecida sob a denominação de Liturgia de Santiago apostolo, primeiro Bispo de Jerusalém . Dela existem manuscritos desde o século VIII.

Os monges de São Maron conservaram essa liturgia em sua forma primitiva e se opuseram a que fosse bizantinizada. De modo que a liturgia Maronita, apesar das modificações introduzidas, conserva ainda intacto o selo de antiguidade, seu cunho de simplicidade grandiosa e a nota daquelas formosíssimas orações que são como uma compilação poética das Sagradas Escrituras.

A tradição siro-aramaica antioquena se caracteriza, tanto em sua forma teológica como em sua expressão litúrgica e nas articulações fundamentais de sua espiritualidade, por uma adesão à verdade de Cristo. Isto, sem nenhum dos ajudantes humanos filosóficos, aos quais as duas outras tradições, a grega e a latina, recorrem para melhor explicitar e viver o conteúdo da mensagem cristã. A sua própria vocação é ficar o mais perto possível do texto bíblico, recusando toda outra terminologia.

Por isso, em matéria de liturgia, essa tradição se apresenta como uma terceira via situada entre a liturgia bizantina de assunção e a liturgia latina de encarnação. A arte aqui e ali prova a inclinação para um Cristo de gloria e um Cristo de paixão. A liturgia siríaca reproduz, em seu desenvolvimento e na vida das comunidades, um modo intermediário entre esta gloria e esta paixão...A maior parte das orações é fruto delicioso da pena de Santo Efrém denominado “harpa do Espírito Santo”, do grande mestre Jacob de Sarug e de muitos outros padres da Igreja de Antioquia que compuseram, na calma da meditação, estas belas orações. .

A língua, como já falamos, é o siríaco ou siro-aramaico, isto é, o mesmo idioma que falou Jesus Cristo e que lhe serviu na Ultima Ceia para a instituição da Sagrada Eucaristia. A Liturgia Maronita conserva, pois, a nota sublime destas palavras da consagração.

Na concepção dos Cristãos orientais, a renovação litúrgica é naturalmente a primeira direção para a qual devemos tender para elaborar toda renovação eclesial ou paroquial. A liturgia é considerada como o “sacramento do povo de Deus” em marcha para a terra prometida, reunindo-se ao redor do seu chefe, o Cristo, na prefiguração de um ajuntamento final do qual fala o autor do Apocalipse. Com efeito, a palavra “igreja”, em siríaco, é “ Knuchto” e significa: ajuntamento.

Esse povo de Deus estando em marcha, cada homem em particular é um peregrino acompanhado pela liturgia durante toda sua vida: no nascimento, no amor, a alegria e a morte. Para os Orientais igualmente, a liturgia é, por conseguinte, o ponto de partida de toda evangelização e o ponto de finalização da vida cristã. A ação litúrgica na tradição oriental é a principal fonte de alimento espiritual.

Para estudar a renovação litúrgica na Igreja Maronita, é inútil seguir, sem distinção, os critérios em honra na liturgia do Ocidente. Porque a Genesis das culturas e das mentalidades constitui ao Oriente e ao Ocidente personalidades distintas, não superior uma a outra, mas simplesmente diferentes.

O interesse que os Maronitas Libaneses dão à renovação do Missal, eclipsa, a seus olhos, toda outra necessidade de renovação litúrgica. Em quanto o livro do Missal não fosse renovado, eles permanecem cépticos à toda possibilidade de renovação. Este valor dominante, o valor do verbo, é uma das principais razoes que “concentra” a renovação em livros determinados, por nosso caso o Missal. Por isso, a Comissão Litúrgica Maronita empenhou-se em fazer a renovação deste livro que, após varias tentativas, ficou vigente em 2001.

Tem que ser da “civilização da Palavra”, do livro, para compreender o que é a renovação de um livro litúrgico. Parece que a necessidade de permutar tem privilegiado alguns valores típicos da civilização oriental. Pode-se dizer que esta é fundamentalmente a civilização da Palavra. Após a pedra, são as palavras que o homem do Oriente Próximo empenhou-se em polir com perseverança. Esta dupla prevalência da palavra e do escrito é um dado permanente que ressurge até os níveis mais espirituais do comportamento humano.

Podemos dizer, finalmente, que a característica talvez mais evidente da Liturgia Maronita é a de ser popular. Parece claro aqui que a missa é o sacrifício de toda a Assembléia, que dele participa efetivamente. Durante o sacrifício, o povo deve manter um dialogo continuo com o celebrante, e suas aclamações lembram os Primeiros Cristãos rodeando seu Bispo na fração do pão .

OS SANTOS MARONITAS

A vida dos Santos começa com sua morte.

Da profunda e difícil vida e da espiritualidade da Igreja maronita, sem olvidar os inumeráveis fieis que deram sua própria vida pela fé, existe um importante elenco de santos e beatos maronitas, sinal da participação desta Igreja particular na Igreja Universal. De São Maron como padroeiro da Igreja maronita e de São Yuhanna Maron já falamos anteriormente porque fazem parte integrante da historia da Igreja Maronita. Falaremos, em continuação dos Santos “modernos” que foram beatificados e canonizados segundo as normas modernas ou recentes exigidas para a canonização.

Santa Rafka Elrayes nasceu em 28 de junho de 1832, na pequena cidade de Himlaya, a 30 quilômetros de Beirute, numa família maronita. Aos sete anos, perdeu a sua mãe, o que deixou nela um grande vazio. Ainda adolescente não hesitou em se tornar empregada domestica para ajudar a sua família. Aos 14 anos de idade começou a sentir a vocação para a vida religiosa. Aos 21 anos abraçou a vida religiosa no Convento de Mariamat, em Bikfaya. De 1856 até 1871, desempenhou-se como professora e educadora, sendo bem querida por seus alunos e solicitada pelas famílias que depositavam nela toda a sua confiança.

No ano 1860, Rafqa viveu as sangrentas matanças dos Cristãos na Montanha Libanesa. Isto foi para ela uma cruel experiência dos sofrimentos humanos.

Em 1871, foi dissolvido o Instituto Religioso Mariamat. Rafqa (Rebeca) entrou logo na Ordem Libanesa Maronita feminina, no mosteiro de Mar Semaan Elqarn. Seu grande ideal era assumir com Jesus Cristo todas as etapas de Calvário. Um domingo do Rosário (1º domingo do mês) de 1885, Rafqa, inspirada, elevou a Deus essa oração: Por que meu Deus não me visitas com alguma enfermidade! Por acaso me hás abandonado!”

Deus aceitou essa oblação de amor incondicional que Rafqa fazia de sua saúde. Pouco tempo depois, sentiu violentas dores de cabeça e nos olhos. Uma operação do olho direito foi considerada necessária. A cirurgia praticada por uma Mao inexperiente provocou a perda completa do olho direito e a infecção do olho esquerdo que também rapidamente se perdeu.

A partir daí, Rafqa passou por provações acima das forças humanas. Ficou cega e com os ossos desarticulados. Era transportada para a igreja, envolta num lençol. Seu ardente desejo de participar nos sofrimentos do Salvador se realizou, e ela conseguiu transformar suas continuas provas em uma alegria angelical, manifestando um sorriso permanente, enquanto seu corpo, débil e enfraquecido, se apagava lentamente, oferecendo assim, seus sofrimentos em comunhão com Jesus pela redenção da humanidade.

Em 1897, foi transferida para o mosteiro de são José de Jrabta, na região de Batrun, onde ficou paralítica, cravada em seu leito, enquanto balbuciava sem cessar: Em comunhão com vosso sofrimento, ô Jesus. Assim foi a vida da irmã Rafqa: desde a infância até a morte, um continuo martírio, carregando a Cruz de Cristo com paciência, alegria e entrega total à vontade de Deus.

Em 23 de março de 1914, Rafqa entregou sua alma a Deus dizendo : “Jesus, Maria, José, lhes dou meu coração e meu espírito, tomem posse de minha alma”.Ela se apagou no leito como uma pedra imóvel, no mesmo momento altar e holocausto. A vida crucificada de Rafca nos revela o segredo do sofrimento redentor, provoca em nós “loucuras” de generosidade e nos situa sempre mais perto de Deus e do homem.

A irmã Rafqa foi beatificada em 17 de novembro de 1985, pelo Papa João Paulo II, e canonizada em 10 de agosto do ano 2001, pelo mesmo Papa. A sua festa litúrgica celebra-se no dia 23 de março, dia de seu falecimento.

Francisco, Abdulmoti e Rafael, três mártires da família maronita Massabki chamados mártires de Damasco, porque foram martirizados em Damasco junto com 8 franciscanos, no dia 10 de julho 1860. No dia 10 de outubro 1926 foram beatificados. Comemoramos sua festa no mesmo dia que seu martírio, 10 de julho.

Os 350 mártires, monges maronitas, foram martirizados em Síria no ano 517, por aqueles cristãos que não admitiam o Concilio de Calcedônia . Celebramos sua festa no dia 31 de julho.

São Naamtalla Kassab, de Hardin, nasceu em 1808, na aldeia de Hardin, no Norte da Montanha Libanesa, numa família profundamente cristã maronita. No batismo recebeu o nome de Youssef. Em 1828, ele entrou num mosteiro da Ordem Libanesa Maronita e tomou o nome de “Naemtallah” que significa ”g Graça de Deus.” Recebeu o habito monacal e fez profissão solene no dia 14 de novembro de 1835. Escolhido diretor dos seminaristas da Ordem, e professor de Teologia moral, como foi nomeado três vezes Assistente geral da Ordem. Ele cumpriu muitas atividades missionárias e apostólicas. Cumpriu os votos religiosos de maneira perfeita, com Fé, humildade e abnegação.

Morreu no dia 14 de dezembro de 1858. Foi beatificado no dia 10 de maio de 1998, pelo papa João Paulo II, e foi canonizado no dia 16 de maio de 2004, pelo mesmo Papa. A sua festa litúrgica celebra-se no dia 14 de dezembro, data de seu falecimento.

São Charbel Maklouf, nascido dia 8 de maio de 1828, em Beqahkafra, aldeia montanhosa, a 1600 metros de altitude no norte do Líbano, situada nas proximidades dos cedros milenares e de Becharre, cidade natal de Gibran. Era o quinto filho do casal Antoun Zarour Makhlouf e Brigida Alchidiac, foi batizado sob o nome de Youssef. Seu pai requisitado pelo exercito otomano para trabalhos forçados não tardou para morrer, quando Youssef tinha ainda três anos. Este cresceu num meio familiar profundamente religioso.

Órfão de pai, o pequeno Youssef freqüentava, em companhia de seus colegas, a escola paroquial de sua aldeia. Desde a sua primeira infância manifestou uma tendência muito pronunciada para o isolamento e a devoção. Abandonava seus camaradas e retirava-se para rezar numa gruta que foi denominada, a principio ironicamente, a gruta do Santo. Já adolescente rezava muito e pedia a Santíssima Virgem que o ajudasse para se tornar monge como seus dois tios maternos.

Em 1851, numa madrugada, sem avisar ninguém, nem se despediu de sua mãe, o jovem Youssef, com 23 anos de idade, se apresentou no mosteiro de Nossa Senhora de Mayfouk da Ordem Libanesa Maronita. Fez seu primeiro ano de noviciado neste mosteiro. Escolheu por nome religioso CHARBEL, em honra a São Charbel martirizado em 107 da era cristã. Seu segundo ano de noviciado aconteceu no mosteiro de São Marun de Annaya ( Montanha de Jbeil),

Em 1853 e aos 25 anos de idade ele fez a sua profissão monástica, ou seja , os votos solenes de obediência, castidade e pobreza. No mesmo ano foi enviado ao mosteiro de São Cipriano em Kfifan para completar seus estudos. Terminado o curso de filosofia e teologia, Charbel foi ordenado sacerdote a 23 de julho de 1859, em Bkerke, sede patriarcal maronita. Voltou, em seguida ao mosteiro de Annaya onde permaneceu 16 anos ,vivendo em comunidade, antes de retirar-se na ermida do mosteiro , dedicada a São Pedro e São Paulo .

No mosteiro praticou todas as virtudes cristãs humanas e monásticas. Na realidade, seus 16 anos de vida no mosteiro foram como uma introdução aos 23 anos de eremita, que são o ponto culminante de sua existência. Os testemunhos recolhidos mostram um São Charbel obediente com uma obediência quase lendária. Sua castidade era verdadeiramente angélica. Em sua pobreza alegre imitou os maiores santos da Igreja, pois sabia perfeitamente que ao despojar-se de tudo neste mundo era imensamente rico no Senhor. São Charbel foi sempre um homem de oração; permanecia longas horas ajoelhado em frente do Santíssimo Sacramento. Dividia seus dias entre os trabalhos braçais nas propriedades do convento e as preces e meditações. Em resumo, suas orações incessantes, seus jejuns prolongos, suas mortificações e sua união com Deus fizeram dele “ um anjo com forma humana”. Perdia-se em Deus como um rio se perde no mar.

No dia 16 de dezembro de 1898, o eremita Padre Charbel celebrava como de costume a Santa missa na capela da ermida quando de repente foi atacado de paralisia, no momento exato da Grande Elevação. A agonia durou 8 dias, após 23 anos de vida de eremita exemplar, São Charbel morreu no dia 24 de dezembro de 1898 na véspera de Natal, para nascer de novo no céu.

Após a morte, bem como durante a vida, padre Charbel foi considerado um santo. No dia de sua inumação, o superior do convento de São Maron de Annaya, Padre Tanios Almechemchany anotou no diário do mosteiro o seguinte: “ Hoje 24 de dezembro de 1898, faleceu na misericórdia do Senhor o Padre Charbel de Biqahkafra, eremita. .. Recebeu os últimos sacramentos e morreu aos 70 anos de idade. Foi sepultado no cemitério da comunidade. O que ele realizará após a morte dispensa maiores comentários sobre a santidade de sua vida”.

O corpo de São Charbel permaneceu intato durante muitos anos após sua morte e inclusive transpirava. Esse fenômeno de conservação e de transpiração do corpo, desafiando as leis da natureza, fascinou os médicos, os homens da ciência. Que um cadáver se conserve não é um fenômeno único, porem que os restos mortais se conservem flexíveis, tenros, transpirando incessantemente é um caso extraordinário e único no gênero. Esse foi o caso de nosso santo. Muitos milagres aconteceram com pessoas de varias nacionalidades e religiões que rezaram sobre o tumulo deste eremita.

O Padre Charbel foi beatificado no dia 5 de dezembro de 1965 pelo Papa Paulo VI. No dia 9 de outubro de 1977 , o mesmo Papa o canonizou, declarando-o santo do Líbano, santo para a Igreja Universal. Celebramos sua festa no terceiro Domingo de Julho. Mas no Brasil, na Argentina e em outros países, sua festa coincide com o dia de sua canonização, 9 de outubro.

O Beato Yaaqub Haddad: No Domingo 22 de junho de 2008 foi proclamado Beato, em Beirute, Yaaqub Haddad deGhazir, presbítero, da ordem dos frades menores capuchinhos, fundador da Congregação das irmãs franciscanas da Cruz no Líbano, falecido em 1954 aos 79 anos. A concelebração eucarística desta grande festividade foi presidida pelo Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as causas dos Santos.

A Beatificação de Abuna Yaaqub, unida à recordação dos santos Libaneses Charbel, Rafqa e Naamtallah Kassab de Hardin, evoca toda a verdade e beleza das palavras de João Paulo II quando dizia: “ A santidade é a via- mestra para os crentes do terceiro milênio”. As historias dos santos libaneses, às quais se acrescenta esta particular do novo Beato, narram sobre homens e mulheres que, obedecendo ao desígnio divino, muitas vezes tiveram que enfrentar provações e sofrimentos indescritíveis. Mas, como nos recordou o Papa Bento XVI: “ Cada forma de santidade, embora seguindo caminhos diferentes, passa sempre pela via da Cruz, a via da renuncia a si mesmo”.

A santidade não ignora e não evita a cruz, a renuncia, o dom de si. O Beato Abuna Yaaqub acreditou verdadeiramente, por isso ensinava: “ Não há céu sem cruz. Desejar o céu sem sofrimento, é como querer comprar mercadorias sem pagar”

O dom de um novo Beato à Igreja Libanesa é um sinal de esperança nas extraordinárias possibilidades deste amado país, de profundas raízes bíblicas. Abuna Yaaqub, que se une aos santos mártires do Vale Santo, e de São Charbel, Santa Rafqa, Santo Neemtallah, é para o Líbano e para os Libaneses um fascinante sinal de reconciliação e de paz, que vem à terra aos homens que Deus ama.

fonte:http://www.igrejamaronita.org.br/